Introdução ao Programa

Texto de abertura [sobre cartão-título do programa]
Creio que toda a poesia moderna, como aliás toda a arte e toda a literaturaautenticamente modernas, nascem da experimentação. Há umacrise, sem dúvida, mas esta tem sentido positivo - e não de decadência.
Crise que, como diz Harold Rosenberg, põe em causa os próprios instrumentos da avaliação da crise. Esta crise é a da própria liberdade - melhor, é a própria liberdade. O artista moderno já não aceita nenhuma determinação, já não é o eco, o porta-voz, o reflexo de nenhuma ideologia, religião ou partido - é ele próprio, um homem nu, essencial, um nada e um tudo, um tudo-nada, procurando-se, refazendo-se, desfazendo-se refazendo-se, sempre segundo este espírito experimental: o espírito da liberdade, o espírito da procura. Em vão se procurará subestimar esta liberdade: ela é o próprio espírito da nossa época, o único estatuto do poeta.
[Pequena pausa e começa a falar]

Este excerto de um texto de António Ramos Rosa, publicado em 1965 no Suplemento do Jornal do Fundão dedicado à Poesia Experimental, serve-nos de introdução à espécie de visita guiada que hoje vamos fazer precisamente à Poesia Experimental Portuguesa, um dos três movimentos de vanguarda que desde o início do século se produziram em Portugal. Dos outros dois - o Futurismo/Modernismo de Orpheu e o Surrealismo -, falaremos a seu tempo. Hoje vamos ver o testemunho concreto do que foi e é a Poesia Experimental Portuguesa, cuja história está feita pelas obras produzidas e que aparecerá em volume, neste momento em preparação, a cargo de Ernesto de Melo e Castro e de mim própria.

↑ voltar ao início do texto ↑